Se bem que no caso de “O menino no espelho”, não é prejuízo colocá-lo na estante de infanto-juvenis, pois acredito que qualquer criança sonhadora se deleite com a leitura das memórias do pequeno Fernando. Aos adultos, resta a vontade de continuar sendo menino.
Fernando Sabino é um daqueles amigos que você nunca conheceu pessoalmente, mas que parece que conhece há muitos anos. Eu tenho alguns assim, dos livros que já li. Não são todos os autores de livros que se tornam meus amigos de sempre, mas alguns alcançam o posto mais alto. Assim foi com Fernando Sabino. Fernando Sabino publicou três livros de correspondências dele com outros escritores. Como eu não me tornaria íntima? Seus romances só foram um complemento.
O Menino no Espelho é um dos meus livros favoritos. É uma narrativa propositalmente simples, Fernando mistura suas aventuras da infância com fantasias que somente uma criança poderia contar. Nada de dragões, vampiros e universos irreais mirabolantes, Fernando conta de seu quintal, de Belo Horizonte na década de 30, que era um mundo fantástico por si só. Uma Infância com “I” maiúsculo.
Escrito sob a perspectiva de uma criança, deve ser lido com olhos da criança que cada um de nós conserva. O que mais me marcou neste livro foi exatamente isso…foi escrito por um adulto, mas você vê ali uma infância genuína, ele te convence de que é menino. O que me prova que você pode ter sempre o olhar de criança, se quiser.
Nada no mundo de Fernando é impossível. O que acho mais legal em “O menino no espelho” é essa noção de que as coisas são da maneira que você acredita que possam ser. Isto é verdade. O que acontece com muitos adultos não é parar de acreditar, mas começar a acreditar que as coisas são ruins e que nada vai dar certo. A expectativa de más notícias que as pessoas alimentam para evitar futuras frustrações apenas faz com que elas sejam realmente frustradas, pois trazem à realidade tudo aquilo que esperam. É o conceito bíblico de fé: “certeza de coisas que se esperam” se você só espera derrotas, é só o que terá, pois está usando sua fé contra você mesmo.
O menino Fernando te faz acreditar nas histórias mais fantásticas, contadas com naturalidade, você se diverte e não vê o tempo passar. Se você se abrir para ler este livro, se despindo do adulto em que você se tornou, e voltar à simplicidade dos olhos de uma criança, eu te garanto uma grata experiência, uma verdadeira viagem ao quintal do pequeno Fernando e às melhores lembranças de sua própria infância.
PS2: Fernando morreu em 2004, um dia antes de completar 81 anos. Bem humorado até o fim, deixou escrito o seu epitáfio: “Aqui jaz Fernando Sabino. Nasceu homem, morreu menino”.
PS3: Os livros de correspondências entre Fernando Sabino e seus amigos escritores são: Cartas a um jovem escritor – E suas respostas – com Mario de Andrade, Cartas na mesa – com Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende e Cartas perto do coração – com Clarice Lispector.
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